Vou tentar escrever num só artigo a minha experiência fantástica pelo Taiwan mas acho que vai ser demasiado complicado…

Após ter adormecido à grande no aeroporto à espera da abertura da gate para o meu voo que me levaria a Taichung e ser acordada por uma alma caridosa numa last (bem last) call, eis que sigo para um novo destino. Apesar de ter aparecido neste itinerário como um meio para seguir para as Filipinas, o meu grande amigo Gonçalo Cruz do The Travel Tool Kit tinha já contado maravilhas sobre a sua experiência às boleias e em couchsurfing, tendo eu sido influenciada positivamente e, assim, fazer uma viagem de quase duas semanas por lá.

And guess what? Melhor decisão de sempre!

Dia 28 chego a Taichung e conheço ao máximo a cidade com a minha mochila às costas, enquanto espero pelo meu host que trabalhava até tarde naquele dia e que, ainda por cima, tinha um jantar da empresa, o que fez com que eu depois de ter andado uns belos quilómetros com um belo peso em cima, sem dormir quase nada, parasse para jantar numa loja de conveniência durante um bom tempo.

Basicamente decidi sair de Koh Tao e ir para Banguecoque numa viagem de mais de dez horas e dormir no aeroporto para não pagar mais uma noite num hostel qualquer na capital. Sim, super tia patinhas. Claro que não consegui pregar grande olho e estava estafada às tantas da madrugada quando tinha de fazer o check in, passar pela segurança e todas aquelas coisas inerentes ao processo de viajar de avião.

Apresento-vos a minha primeira refeição à chegada e num KFC:

No dia seguinte e, após ter conhecido grande parte da cidade com estas belas pernas de atleta que se desenvolvem sempre muito em viagem (para pagar o mínimo em transportes e porque é assim que gosto de conhecer novos destinos), vou de boleia bem cedo para Sun Moon Lake e passo lá o dia todo. Se virem fotografias no Google perceberão o meu must see e o fascínio que já tinha antes mesmo de visitar este local.

O Ellis escreveu-me num pedaço de cartão nos seus caracteres este meu destino e lá fui eu com a minha mochila mais pequena com comida, água e uma roupinha extra para lá. Foi super fácil conseguir uma boleia, sendo que a primeira levou-me para uma vila que estava em festa e que, apesar de ficar a uns belos quilómetros do Lago, decidi ir com estes três jovens e aproveitar um bocado daquela festividade local à taiwanesa. Afinal, há coisas inesperadas que surgem que acabam por ser as melhores, right?

Dispensei uma hora e decidi continuar o trajecto a que me tinha proposto na noite anterior. Parei num cruzamento que me pareceu perfeito para o efeito e em menos de cinco minutos pararam cinco carros de seguida, em fila. Assustei-me e pensei cá para mim:

– What the hell? Estou metida em sarilhos, queres ver?

Mas não. Foi só uma família dividida em cinco carros que me queria dar boleia e estavam super curiosos sobre mim e sobre a minha vida. Foi tão engraçada toda esta situação, especialmente quando eles começam uma conversa em vídeo chamada numa app lá deles comigo no banco de trás de um dos carros e os outros quatro a aparecer em janelinhas tipo skype. Ri-me à gargalhada sem conseguir parar por uns cinco minutos, acho eu.

Com eles acabei por não só almoçar e passear pela vila, ir aos templos como passear de barco. Eles acolheram-me como membro da família também sem sequer perguntar e levaram-me ao melhor buffet com imensa comida de lá, experimentei os ovos especiais cozidos em chá, gelado disto, sumo daquilo, e mil outras coisas. Foi um dia mesmo especial. Não conseguia agradecer mais como agradeci naquele dia a todos eles.

No Instagram acabei por publicar a fotografia que está na minha imagem de destaque e na qual escrevi a seguinte descrição:

“Traveling is about giving.

I started to hitchhike in Georgia but it was in France where I tried the most. I had all those thoughts that a girl alone doing that can be dangerous and so on. When I don’t do it, it just because I don’t feel like, it is pointless or too hard. This is the family of my second ride today who gave me more than I expected and I can’t stop smiling while thinking about my day and writing this to you. I woke up today feeling that maybe I would go to the place I wanted too late, but it was just the perfect timing.

They gave me the ride and they offered me one of the most amazing experiences: being part of the family. So good. They offered me a boat tour around the lake, a fantastic and diverse lunch, amazing talks and money for the bus back home! I was amazed with all the kindness.

I won’t never forget this day and this reminded me for me to just try to enjoy and be in moments rather than capturing them through the screen of my phone. Life isn’t meant to be lived through a screen nor is it about getting the perfect photo. Enjoy the moment first without trying so hard to capture the best for everyone else. And this photo with all of those smiles is one of the best of my today’s album”.

Depois deste dia em que permaneci completamente grata por tudo aquilo que estava a receber sem pedir ou esperar, eis que acontece algo ainda mais inesperadamente brutal. Eles perguntam-me se quero continuar a pertencer à viagem de família deles e seguir para outra vila com montanha a quase duzentos quilómetros dali, uma vez que eles tinham um quarto disponível onde eu podia perfeitamente ficar. Fiquei estupefacta e … eu que sou conhecida por ser um cubo de gelo em vários momentos da minha vida, começo a sentir que os meus olhos começam a ficar ligeiramente vermelhos. Agradeço imenso mas rejeito a oferta, com muita pena minha.

Apesar de a espontaneidade ser algo que adoro em viagem, já tinha alguns planos que teria de cumprir desta vez tendo em conta a minha rápida estadia naquele país fantástico. No entanto, fiquei com o contacto de vários membros da família e prometi voltar e visitá-lós! Ganhei um família no Taiwan, não é incrível? 

Mas o mais fantástico ainda foi que, com o objetivo de voltar para Taichung da mesma forma que fui – à boleia – e, uma vez que eles acharam que era já demasiado tarde para conseguir alguma boleia para conseguir ir ainda ao night market com o meu host, levaram-me directamente para a estação de autocarros e … pagaram-me o bilhete de autocarro e ofereceram-me uns snacks para o caminho! Tentei pagar-lhes aquele bilhete e dizer que não era preciso tudo aquilo e que era demasiada generosidade mas eles insistiram e eu fiquei novamente sem saber o que dizer e limitei-me a agradecer cada um deles com um forte abraço.

O caminho até casa foi mágico. Pensei nos últimos dois dias no Taiwan e não queria acreditar na sorte que tinha tido até à data. Mas as aventuras não faltaram nos próximos dias e eu segui de novo às boleias no dia seguinte para Kaoshiung.

O meu destino era mesmo Tainan mas um casal parou o seu carro com ida para Kaoshiung que seria o meu destino seguinte a Tainan e eu simplesmente decidi que iria com eles, just because e na espontaneidade. Sem host e com os hotéis a um preço exorbitante porque eram férias naquela altura e a malta toda andava a viajar e estava tudo esgotado, apercebi-me que havia uma alta possibilidade de ficar a dormir numa estação de autocarros ou comboios. Mas não aconteceu e eu numa oportunidade de último minuto consegui uma cama num dormitório brutal por 20 euros [auch!].

Este casal foi igualmente brutal e ofereceu-me o meu primeiro Mille crepe numa estação de serviço e pararam em dois outros sítios onde compraram o meu jantar e a sobremesa para depois do jantar, após partilharem os seus contactos e dizerem que querem que eu os mantenha informado as das minhas aventuras e para lhes ligar se necessitar de ajudar. Incrível, não é?

Levaram-me ao meu alojamento e a proprietária não falava inglês. Eles acabaram por entrar e serviram de meus tradutores privados até ao final. Não consigo expressar mais um vez esta generosidade toda. Após o jantar e tomar um duche decidi ir dar uma volta  e ir ver o Porto, o píer, o arts center e todo o bairro à volta, chegando de madrugada. Senti-me bastante segura e uma liberdade fantástica ao fazer toda esta viagem sozinha.

Dormi que nem um bebé e fui visitar no dia seguinte os pagodas do dragão e do tigre, todos os mercados que consegui, o Love River, e andar mais de 25 quilómetros com tanto passeio.

Entretanto mudo para um alojamento mais barato do outro lado da cidade, o que me fez explorar outra área completamente diferente e que adorei.

Seguiu-se Tainan de boleia com com dois amigos super simpáticos. Fiquei novamente com um host super porreiro, francês e estudante de doutoramento. Andei por todo o lado a pé e com vários autocarros desta vez também. Estas perninhas estavam cansadas nestes dias e o calor não permitiu ter grande disposição para apanhar mais bronze em grandes caminhadas, o que acabou por acontecer inevitavelmente.

Tainan não me seduziu particularmente, apesar de ter até gostado da sua vibe. Decidi ficar apenas uma noite com dois dias bem caminhadas de um lado para o outro e mais uma ou outra boleia.

Até seguir para Taitung onde apanhei o meu primeiro comboio e … que vista impressionante! O meu host bem que me tinha dito que de comboio iria ser bonito mas desta forma não esperava eu e adorei cada minuto desta viagem. Repetia já!

Fui bem abastecida de comida, nomeadamente sushi, o que fez o trajeto ainda mais interessante. If you know what I mean…

Mal cheguei a Taitung meio que fiquei com a impressão que era uma cidade fantasma e comecei a caminhar para a minha guesthouse completamente sozinha nas ruas. Até que páro numa loja de conveniência para comer mais qualquer coisinha e caminhar mais uns três quilómetros até o meu destino. Entretanto uma mota pára e um jovem pergunta-me para onde vou tão carregada com aquela mochila e dá-me boleia! Meio perdidos com a localização do meu Hostel, ele lá liga para o número que aparecia no Booking e lá chegámos 

Deambulei sozinha e tranquilamente pela cidade já passava da uma da manhã. Depois fiz um Netflix breve e tentei dormir um bocado até sentir forças para apanhar boleias de novo. Desta vez a boleia seria até Hualien. E acho mesmo que vou deixar a minha última semana para um próximo post porque foi mesmo especial. Ficam desse lado, certo?