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O meu terceiro até breve à Tailândia

O meu terceiro até breve à Tailândia

Uma carrinha BMW surge perto do hostel onde eu estava por volta das oito da manhã, a hora combinada para seguir viagem para as minhas próximas aventuras noutra parte daquele país ainda por mim desconhecida. Vi um casal e uma criança com os seus três anos na carrinha e pensei que estavam ali para irem buscar algo ou encontrarem-se com alguém mas estavam mesmo para me conduzir uns trinta ou mais quilómetros até à central de autocarros onde teria de fazer uma transferência até Khao Lak juntamente com vários outros turistas. E assim se faz na Tailândia, sem grandes problemas. Mais tarde iria entender que eram os pais e um dos irmãos da rapariga que me tinha vendido o bilhete.

Tinha como objetivo não repetir nenhum local em que tinha estado no passado na Tailândia e assim o fiz, com uma excepção muito especial que já vos conto lá para o fim deste artigo.

Teria de aguardar um belo par de horas até ter uma outra carrinha pronta para nos levar e, com todo esse tempo, aproveitei para dar uma volta nas redondezas e tomar o pequeno-almoço num restaurante pequeno e onde os locais estavam também. Não falavam inglês mas nada como um pouco de linguagem gestual e mímica não resolva nestas situações. Regressei à estação após pagar um euro por um prato de arroz com um ovo e vegetais bem como um café e o calor já começava a revelar-se de forma bastante intensa.

A chegar a Khao Lak peço que o condutor pare onde o meu maps.me indica que estou perto do meu hostel para aquela noite e ando nas redondezas e não consigo encontrar a porta do mesmo. Decido perguntar a uma senhora num bar se conhece o nome daquele alojamento, até que me vejo rodeada de três cães a ladrarem e a virem na minha direção, e eu com a minha mochila de dez quilos nas costas e outra mais pequena de uns três à frente. Para uma possível tentativa de escapar a cães raivosos tinha tudo para correr bem, certo?

A senhora acaba por me pedir o contacto do hostel e ao entender que estávamos perto, deixa o seu bar aberto e diz:

– Come. I take you there. This is my motorbike so let’s go.

E assim me levou à porta com um sorriso e desejando-me muita sorte para a minha viagem. Fiquei sem palavras e limitei-me a agradecer com uma gratidão enorme no meu coração.

O hostel era completamente novo e o dormitório com quatro camas e uma casa de banho partilhada tinha direito a lençóis e toalhas com aquele cheirinho a lavado brutal e que eram mudados todos os dias. Por cinco euros a noite não achei nada mal o negócio e decidi passar mais duas noites. Três camas já estavam ocupadas pelo que tive de ficar com a de cima, damn it!Foi aqui que, após uma bela banhoca e troca de roupa, conheci a D. que viria a mudar um bocadinho a minha vida. Com quase a idade da minha mãe, ela rapidamente tornou-se alguém com quem falei sobre vários temas e com quem senti uma ligação especial. Ela vive numa das cidades que mais gostei em França e que visitei umas vezes quando lá trabalhei o ano passado.

Os meus planos eram três. Cada um distribuído por um dia diferente e permitindo-me ter tempo para mim e para o inesperado que pode sempre acontecer quando viajas sozinha e sem grandes timings. Queria ir às surin, às similan e a uma tour pelo parque nacional em Khao Lak. E foi exatamente por esta ordem que o fiz. O ideal teria sido fazer mergulho mas era demasiado caro e fiquei-me pelo snorkeling que valeu super a pena! Mais tarde vinha a saber que um dos meus amigos de Koh Tao tinha lá o irmão como guia de mergulho e que ele podia ter-me levado lá de borla e com direito talvez a dormir numa cabana na praia. Frustrante, não é?

Quanto aos pormenores de custos, cada tour custou à volta de 18€ com almoço e material incluído bem como uns cinco spots diferentes para nadar e explorar um bocado. Já a tour de um dia pelo parque com direito a rafting, andar ou dar banho aos elefantes, almoço e pausa para café à tarde, visita a um templo com dezenas de macacos e onde os turistas se divertem a dar bananas o tempo todo e um ou outro viewpoint e cascata foi o equivalente a uns 15€. Mais uma vez, voltei a conhecer pessoas que me fizeram sentir bem e com quem partilhei bons momentos nestes dias.

No primeiro dia, nas similan, conheci um senhor de sessenta anos que contava-me que fazia estas aventuras de barco e de snorkeling sozinho uma vez que a sua esposa preferia ir à praia e fazer massagens e nunca o quer acompanhar e como apesar de ter pena de ela não o fazer, entende que nem sempre os companheiros de uma vida têm os mesmos interesses durante esse tempo. Falou também dos seus dois filhos e de como me achava uma inspiração estando a viajar sozinha com a idade que tenho, sendo mais nova que os seus “miúdos”. Ao almoço conheço uma cantora americana que também andava a viajar sozinha pela primeira vez antes de completar os seus trinta anos e tinha começado a fazê-lo desta forma na Tailândia, contando-me que iria fazer outras tantas viagens ainda não muito delineadas.   Acabámos por ser parceiras e fotógrafas uma da outra até ao final daquela tour e, apesar de ter sido um contacto estabelecido numa tarde, ainda falamos actualmente e gosto sempre de saber como ela está e como as suas aventuras têm corrido.

Após este primeiro dia sentia-me estafada. Tinha sido um dia de emoções e conversas fortes, tinha nadado quilómetros e senti que já podia afirmar que tinha tido mais uma das experiências mais marcantes e fantásticas na Tailândia.

As similan foram guiadas pela rapariga que dormia na cama do beliche por baixo da minha e rimo-nos imenso por esta coincidência gira. Falaríamos imenso durante o dia e, apesar de ser uma área muito linda, não ultrapassou de todo a minha experiência nas surin. As similan são bem mais turísticas o que fazem com que a praia e os sítios de snorkeling estejam cheios de gente. Ao chegar ao hostel encontro a D. ainda mal de uma indigestão mas acabamos por ir dar uma volta pela rua principal, aproveitar para enviar uns postais e fazer umas pequenas compras no mercado que acontecia três vezes por semana. Ficaríamos à conversa até bem tarde, em lua cheia, numa noite super especial.

Eu faria a minha última tour no dia seguinte e ela ficaria mais duas noites para fazer as Similan e as Surin como eu. Depois destas três experiências, segui novamente para Koh Tao e a D. foi lá ter comigo de forma super espontânea e eu adorei a iniciativa dela e fiquei ainda mais feliz por conseguir apresentá-la às outras pessoas fantásticas que lá conheci, nomeadamente a minha J. e a Alex. Foram três noites onde voltei a divertir-me como já não me lembrava ser possível, numa mistura de felicidade e liberdade puras com pessoas genuinamente boas. Dancei e cantei muito.

E acabei por ser levada ao meu Hostel por um canadiano com quem partilhei  a mesma praia como pista de dança e que, ainda que com o pé esquerdo com vários pontos após um acidente de mota, caminhou comigo quase dois quilómetros descalço, só para garantir que eu chegava bem, uma vez que eu ia sozinha e já passavam das três da manhã. Ao chegar ao destino ainda falámos um pouco e ele desabafou sobre a morte do seu melhor amigo e como isso mudou a sua visão sobre a vida enquanto jovem ou sobre a sua relação com a sua família, os seus outros amigos e o trabalho. Numa conversa desapegada fomo-nos esquecendo do factor tempo e eu acabei por descansar apenas um par de horas antes de ter de acordar para preparar tudo e ir para o ferry que me iria levar até ao autocarro que por sua vez me levaria de novo até Banguecoque.

O mais curioso disto tudo é que não só não me lembro do nome dele como não ficámos com o contacto um do outro. O que aconteceu naquela noite foi uma ligação inexplicável e simplesmente bonita tal como se fôssemos velhos amigos.

Adivinham o meu próximo destino? 

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