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Backpacker no Japão: a saga continua

Backpacker no Japão: a saga continua

Parte 2

Devem estar a perguntar-se o motivo pelo qual fui de Nara para Osaka de novo em vez de continuar em direção a Tóquio. Acontece que a tal família que foi ter à terra dos Bambis decidiu ter planos em conjunto e essa ideia era simplesmente irrecusável!

Ao iniciar a nova aventura das boleias para Fuji e com os papéis todos bem preparados com os carácteres japoneses, um sorriso rasgado não podia faltar, assim como uma energia super positiva para que a paciência não se perdesse caso demorasse demasiado tempo para aparecer uma alma caridosa que quisesse levar ao destino esta Adriana com a ideia de andar só às boleias no Japão.

Existem muitas pessoas que não entendem o conceito de hitchhiking ou o de andar à boleia em bom português e nem tão pouco quero fazer desta meia dúzia de palavras que aqui escrevo um marketing positivo agressivo ao mesmo. No entanto, esta prática não é só para poupar uns trocos e roubar dinheiro às companhias de transporte ou às próprias pessoas que me dão boleia como já ouvi inúmeras vezes. Tal como o couchsurfing, andar à boleia é sinónimo de conhecer pessoas, locais ou estrangeiros, de trocar ideias e até de fazer amizades! E sim, para muitas pessoas continua a não ser seguro, especialmente para as raparigas que viajam sozinhas. Não nego que pode ser em algum momento mas até agora não tive qualquer problema com ninguém e acredito que assim continuará a ser, pois ainda acredito genuinamente na bondade das pessoas. Talvez seja a ingenuidade da idade, talvez seja só o meu coração de cidadã do mundo.

As boleias aconteceram numa carrinha familiar para começar e em dois mega camiões cuja subida para o lugar do pendura era um desafio para esta baixinha. Nenhum deles falava inglês mais uma vez e as traduções constantes do Google faziam parte da aventura. Com apenas o pequeno-almoço no estômago e, após uns quatro quilómetros de caminhada até ao AEON Mall, eis que seria altura de atacar as promoções do fim de tarde daquele supermercado e comprar sushi, croissants, noodles e um kinder bueno. Super internacional como podem perceber. Não comprei fruta para completar o menu, não por ter sido falta de vontade mas porque me bastou comprar uma vez uma caixa de oito peças de nigiris de salmão e uma maçã e ambas serem o mesmo preço, o equivalente a 1,50€ cada. Deixa lá o comer “pelo menos uma peça de fruta por dia” de lado no Japão. Claro que não podia faltar o ataque às amostras de modo a encher um bocadinho mais a barriga de misérias neste passeio pelos vários corredores.

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Sem uma resposta positiva do couchsurfing para aquele novo destino e, enquanto dava ao dente aquele jantar maravilhoso num dos sofás confortáveis do centro comercial com vista para as escadas rolantes do piso inferior, aproxima-se uma senhora das limpezas a falar japonês, certamente a dizer que não era o sítio indicado para estar a comer que nem uma campeã. Mas sabem aqueles momentos em que temos de completar uma necessidade básica e estão sem forças para agarrar de novo no telemóvel e explicar a alguém que pode falar para o microfone do mesmo que aquilo traduz automaticamente esteja a falar o idioma que for? Culpada aqui. Acenei afirmativamente com um sorriso por vários minutos, na tentativa que a senhora entendesse que estava mesmo a acabar e que estava confortável ali, mesmo continuando a comunicar comigo sem entender que eu não a entendia de todo. Obrigada genes pelos meus olhos rasgados!

Após uma hora de tentar conseguir mexer-me de novo daquele poiso tão bom, agarrei o telemóvel e o local escolhido para comer uma tarte de maçã e dormir foi … o McDonald’s! Afinal sempre comi fruta naquele dia, viram? Para completar uma sessão de beleza de sono num espaço como este, a minha mochila de cinquenta litros e mais de doze quilos ficou aos meus pés enquanto a outra mais pequena servia de uma almofada e o meu casaco com capuz fazia com que a luz branca e brilhante não afectasse tanto a minha contagem de ovelhas para tentar adormecer. Na mesa permanecia o tabuleiro com o meu pedido para que não se esquecessem eventualmente que eu consumi algo naquele espaço. Com toda esta preparação, o máximo que consegui dormir foram umas três horas.

Mas nem o cansaço impediu o meu sorriso gigante de aparecer quando vislumbro o Mt. Fuji, lindo e claro num céu azul e limpo, da janela perto do banco que escolhi para ser a minha cama naquela noite. Sabem aqueles momentos em que sentem mesmo uma felicidade pura ou de objetivo cumprido? Se sim, entenderão bem o que senti naquela altura.

Às nove da manhã havia já encontro marcado na estação central de comboios com os novos hosts do couchsurfing, um casal super simpático, ele americano e ela russa. Eu estava com a adrenalina toda resultante da felicidade daquele belo despertar pela manhã e não o escondi quando conheci o Tyler. Ele foi daquelas pessoas com quem me identifiquei desde logo e com o qual acreditei que podíamos ser bons amigos, sem mesmo termos tido grandes conversas.

Após deixarmos as mochilas num quarto fantástico numa casa típica e tradicionalmente japonesa, onde iríamos passar as próximas duas noites, eles decidiram ir a uma estufa de morangos onde podíamos colher e comer os que quiséssemos por 1000 JPY. Eu dei pulinhos de alegria por aquela nossa espécie de pequeno-almoço e fiquei com uma barrigada gigante após umas duas horas. Foram vários os tópicos de conversa mas todos eles como ponto essencial a viagem. Seguiu-se um passeio pela praia e uma visita por um templo relativamente perto da mesma bem como um jardim no topo de uma colina com um observatório com uma vista para o Mt. Fuji brutal.!

No final daquele dia preenchido decidimos comprar o jantar no supermercado e ir para um parque rodeado de árvores e plantas fantásticas e coloridas que fizeram o nosso serão bem mais bonito. O dia seguinte estava chuvoso mas isso não nos parou de conhecer um templo, um shrine e visitar o museu da cidade, todos eles incríveis!

Por volta das quatro da tarde e já fartos da chuva, eis que chega a hora de todos irmos almoçar a um restaurante que nos fez bem mais bem dispostos e, especialmente, mais feliz a barriga de fome com a qual nos fazíamos acompanhar. Eu estava acompanhada do meu casaco para a chuva super laranja que a Natalia me ofereceu ao ver a falta que ele me podia fazer num dia como aquele e que combinou totalmente com os templos que vimos naquela manhã. Durante estes dois dias aprendi mais sobre a eficiência dos japoneses, ou a falta dela, no local de trabalho e mais sobre a sua relação com a família.

No fundo, desde cedo eles têm como crença que devem ser excelentes estudantes e conseguir um bom trabalho para conseguirem ajudar a sua família mais tarde, e de se sustentarem desde cedo. Muitos jovens da geração mais nova vivem mais afastados da sua família, adormecidos entre jogos de computador ou de telemóvel e comics, privilegiando o que é virtual ao real. Já a sua eficiência pode não ser tanta como eu pensava, uma vez que eles estão tão habituados à obrigatoriedade de estarem sempre ocupados com algo que acabam por executar tarefas que ou não fazem sentido ou são simplesmente repetitivas e nada acrescentam ao dia de trabalho. Por outro lado, conheci um senhor do Sri Lanka a viver na China há vários anos e com visitas quase mensais ao Japão que os elogiou imenso ao nível de eficiência no que diz respeito às novas tecnologias. São perfeccionistas e podem demorar o dobro do tempo a terminar uma tarefa mas o que fazem, fazem bem.

Ir embora de casa deles foi um mix de sentimentos. Por um lado sabia bem seguir viagem para o destino seguinte que era Tóquio mas, por outro, sabia a pouco as nossas conversas e os momentos super divertidos que passámos todos juntos. Mas viver o verdadeiro conceito do couchsurfing é isto mesmo e vale a pena quebrar aqui o mito que ele está morto ou que só funciona com raparigas que viajem sozinhas. Para quem não conhece ou conhece pouco, inscrevam-se e não tenham medo de serem vocês próprios, nunca esquecendo que não serve apenas para poupar dinheiro em estadia mas sim, sobretudo, para viver experiências incríveis que dificilmente seriam possíveis se não conhecessem aquelas determinadas pessoas.

Prolonguei-me um pouco nesta parte 2, portanto dedicarei a terceira e última parte a Tóquio, boa? 

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