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Am I dreaming, Philippines?

Am I dreaming, Philippines?

Vou começar pelo fim da minha viagem pelas Filipinas. Porquê? Porque quando ia publicar a primeira parte, um acidente aconteceu e tudo o que tinha escrito na última hora foi ao ar. Estou aqui a respirar fundo para me preparar mentalmente que perdi o trabalho e que vou ter de escrever tudo de novo, ainda que não vá sair a mesma obra de arte. 

Este, no entanto, foi escrito no terreno pelo que foi um copy paste tratado com uma atenção e amor adicional para vocês. E começa assim:

Estou neste momento num restaurante coreano onde consumi cerca de duzentos pesos para ficar aqui a tarde toda, mesmo ao estilo tuga. Entre marcação do meu voo de regresso a Portugal que deixei para a última hora, a três semanas para ser mais precisa, um salto tandem que quero fazer, a tentativa de convencer os meus grandes amigos da universidade para fazer parapente comigo, marcações variadas de saúde e beleza, pedidos finais de couchsurfing para o Japão e pesquisas aleatórias sobre o que ver e fazer lá. Enquanto faço este multitasking todo, oiço grandes músicas comerciais de rádio que me fazem dançar sozinha aqui no meu canto a carregar o telemóvel que está a demorar a tarde toda para ficar a cem por cento. Raios parta a estas pesquisas todas que não o deixam descansar nem enquanto carrega…

Aqui reflicto sobre o quão bem me sinto em relação a mim mesma neste momento e durante esta viagem. Creio que conquistei um lado da Adriana que andava adormecido há uns tempos e que acabou por despertar por estar sozinha e por ter levado uma grande e inesperada reviravolta na vida uns meses antes.

De forma super interessante venho redescobrir que sou muito mais daquilo que pensava ser e fazer tantos amigos em viagem que já perdi a conta de todos aqueles que vou sentir saudades, ou que já sinto até. Estou disponível para isto e sorrio à vida todos os dias porque estou de facto bastante agradecida por tudo o que ela me tem dado. As coisas boas e as coisas menos boas (ou mais chatas) acabam por ser todas muito bem-vindas porque são elas que fazem com que eu aqui esteja e tenha estas reflexões todas sobre mim e aqueles que me rodeiam.

Estão a olhar imenso para mim enquanto eu me sinto que estou a abusar um bocadinho da simpatia deles aqui no restaurante mas eu preciso mesmo da bateria cheia ou então a minha vida no aeroporto e no meu primeiro dia num país novo pode ser bem mais complicado.

Na rua as pessoas olham bastante também. Talvez por estar muito castanha ou só por estar com uma valente constipação que me faz assoar o nariz a cada dois minutos com um lenço já bem molhado. Graças à minha decisão super acertada e nada inconsciente de sair todas as noites em El Nido com a malta do meu hostel e de não levar um casaco para vestir no final da noite quando já é de madrugada e o calor que se sente durante o dia não tem nada a ver. Sim, Adriana… entre as quatro e as seis da manhã está um friozinho que pode provocar pele de galinha e também constipações. Especialmente quando não tens água quente na casa de banho para tomares um banho e te aqueceres. Aprende para a próxima, ok? 

A minha última noite em El Nido foi mágica. Desta vez começou por ser só com o J. que estava super pronto para a festa, como esteve sempre em todos os dias que privei com ele. A música no nosso bar favorito – Pukka Bar – para quem estiver curioso em lá ir um dia, não estava nada de jeito ou com a energia ideal para dançar muito e a noite terminou relativamente cedo. Com isto, disse-lhe que preferia ir descansar para casa enquanto ele via que eu estava a tentar esforçar-me para me divertir. A caminho, na praia, estavam três filipinos que nos convidaram para sentar e estar um pouco com eles e, com um sorriso, ambos concordámos telepaticamente. Nenhum deles era de El Nido mas trabalhavam ali por se ganhar melhor visto ser um destino super turístico em que os preços das coisas são consideravelmente mais altos se compararmos com outros sítios em Palawan.

Eles falavam da sua vida e em como ganhavam por volta de quatro euros por dia a trabalhar no mínimo umas oito horas.

– Isso é o que eu ganhava talvez em Portugal por hora e achava que era explorada!

Já o J. falou dos seus 23 dólares australianos por hora e todos tivemos aquele minuto de silêncio a pensar nas nossas realidades e nas nossas vidas. Eu e o J. pensámos, em silêncio, em como por vezes não temos a noção do quão sortudos somos por termos a nacionalidade que temos ou a oportunidade de trabalhar e conseguir poupar para viajar por largos meses depois. Estes rapazes nunca tinham saído das Filipinas nem tão pouco de Palawan. Se não conhecerem bem geograficamente este conjunto de ilhas, peço que façam essa simples pesquisa na internet bem como eventuais valores de avião ou barco. Gratidão é o que sinto em todos estes momentos e em todos os restantes em que tenho a capacidade de simplesmente respirar. Por vezes tomamos como garantido este simples acto que de simples não tem nada.

Vivendo em Portugal isto é quase uma anedota pois a qualidade de vida que um português tem é ridícula no meu ponto de vista. Pagamos tudo e, mesmo quando assumem que a educação é gratuita, no fundo isto é não é bem verdade. Pagamos os livros, pagamos propinas na universidade, pagamos para ir ao médico, todos os exames adjacentes e os especialistas são pagos a preço de ouro se não tiveres um bom seguro de saúde. Pagamos impostos altos sem grandes benefícios sociais e temos uma estrutura empresarial maioritariamente conservadora ou obsoleta. Mas não me pretendo esticar aqui…

Vivemos hoje num mundo em que todos seguimos os mesmos passos, o mesmo estilo de vida e temos os mesmos objetivos. O meu maior sonho, para além de um maior que não partilharei aqui, é viajar. Não acredito que seja normal e humano ter apenas trinta dias de férias e que passemos esse atestado de sacrifício aos nossos irmãos ou filhos. Não acredito no trabalho das quarenta horas semanais, quando não fazes mais porque “é preciso” para salários mínimos de 600€ ou 900€ se já fores altamente, nem tão pouco acredito numa vida tão sem sabor em que apenas os breves momentos (normalmente aos fins de semana) com os amigos ou outras pessoas que gostamos nos fazem apreciar a vida.

Mas como eu outrora afirmava frequentemente “existir é sobreviver a escolhas injustas”.

E isto leva-me a pensar no meu dia antes da noite. Gira a frase não é? Pois bem, estava eu com uma vontade imensa de comer uma pita de falafel enorme quando meto conversa com um rapaz ao meu lado que estava à espera do seu pedido, tal como eu. Eu tenho sido assim nos últimos tempos aqui em viagem. Simplesmente falo com as pessoas na rua ou na praia ou onde quer que seja. Antes não gostava de falar assim muito e precisava do meu espaço mas, aqui, simplesmente me entrego quando sinto que devo, e isso acontece a quase toda a hora. Quero conhecer pessoas.

Quanto ao rapaz, com trinta e quatro anos e a viver no Dubai como consultant, o Mo acabou por nos acompanhar numa noitada por El Nido. Nem ele esperava em ter uma noite como a que teve de certeza! Basicamente foi com ele que no dia seguinte fui fazer snorkeling a uma praia, na tentativa de ver uns corais porreiros ou umas tartarugas. No entanto, vi só uma cobra do mar e foi tudo. Nada de interessante mesmo. Sad!

Mas a aventura foi ainda mais engraçada uma vez que eu não tinha um snorkel e a minha máscara estava sempre a ficar embaciada. Sem barbatanas, ambos demos a volta a uma ilha a nadar e para irmos buscar as nossas coisas tivemos de atravessar rochas que cortavam os nossos pés com facilidade se não tivéssemos o mínimo cuidado. Os barulhos que fazíamos ao tentar atravessar aquela área era simplesmente genial. Ai! Ui! Shit! Auch!

Terminámos esta aventura ao parar para um batido de fruta e o Mo comer um hambúrguer também, antes de seguir para o aeroporto de Puerto Princesa onde seguiria para Manila e depois Dubai. Pediu-me para contar-lhe a minha história assim de forma resumida e aconselhou-me a escrever um livro como todas as pessoas o fazem quando eu faço o que ele me pediu. Quando afirmo que já o fiz e que estou só à espera da revisão e do momento certos, eles ficam ainda mais admirados, ao mesmo tempo que curiosos e interessados em saber mais.

Depois deste nosso exercício todo na tentativa de ver coisas interessantes e ver coisa nenhuma, decido ir para o centro com o Mo de triciclo e parar num café com boa internet para tentar candidatar-me a um working holiday visa, tal como duas amigas minhas tinham feito. Assim que descobri o café ideal e faço o meu pedido, entro no website e vejo que as candidaturas estavam já encerradas. Em três dias estavam completas! Fiquei com um belo melão por não ter ido a tempo e, ao dar a notícia à minha Y., acabei por ficar com aquela cara meio trancada de quem falhou a um compromisso. Mas passou rapidamente e pensei que talvez era só o universo a dar a mensagem que não era o tempo certo para isso ou que outras oportunidades irão surgir. De facto a minha ideia sempre foi outra para o final deste ano e para o ano que se avizinha, portanto não fiquei de todo desanimada e aceitei a realidade. Logo vou ter com elas ou com o J. à Austrália!

Aproveitei assim para pesquisar umas coisas para o Japão mas pouco. Não tenho paciência para planear nada com muita antecedência pois acaba sempre por acontecer algo que faz com que tudo mude. E foi exatamente isso que aconteceu. No meu segundo dia em El Nido decido ir na tour A sozinha onde conheço várias pessoas, mas sobretudo uma que acabou por se tornar um contacto brutal e provavelmente uma amizade para a vida!

Também aqui, em Clark, foi a primeira vez que vi miúdos a pedir na rua e a baterem no vidro do supermercado para me chamarem à atenção de que eles ali estavam. Nunca sei como reagir a estas coisas. Com um aperto no coração, a pessoa ou ignora ou dá alguma coisa. Estava no 7/11 quando isto aconteceu. E foi também aqui que comecei a ser assediada por um conjunto de três homens que mudou de lugar só para estar mais perto de mim e fazer umas perguntas, nomeadamente onde eu estava hospedada, à qual não respondi como é óbvio. Esta situação espoletou em mim uma memória que tentei durante muito tempo apagar.

Mas voltemos a Angeles e às Filipinas. Depois de apanhar um Grab para a minha guesthouse e o taxista não a encontrar e deixar-me num sítio qualquer, eis que caminho com a minha mochila, toda teimosa, até encontrar o raio do sítio que paguei pelo booking. Enviei uma mensagem ao alojamento e tentei ligar mas sem dinheiro no telemóvel, não conseguia contactar ninguém, nem ali nem em lado nenhum. Claro que tentei ir à polícia e pedir a umas quantas pessoas na rua que ligassem para aquele número mas ninguém quis saber e eu continuei na minha vida a tentar safar-me sozinha.

Após sensivelmente uma hora lá encontro a guesthouse e o meu quarto era modesto mas ideal para o descanso que eu queria ter naquela última noite nas Filipinas. Mas a parte mais engraçada estava para vir quando eu, ao arrumar as minhas coisas e ao preparar as coisas para o banho, dou de caras com duas baratas mortas enormes. Uma num armário que não deve ter sido aberto por vários dias ou semanas e outra junto ao caixote do lixo da casa banho. Mais tarde iria encontrar outra no quarto mas já lá vamos.

Para quem não me conhece bem, eu tinha pavor a estes animais nojentos quando fiz a minha primeira viagem ao sudeste asiático. Quando menciono pavor aqui, falo em gritinhos histéricos, com direito a saltos para a cama, em pedir ajuda para fazer desaparecer estes insectos e mil e uma outras formas parvas de manifestar o meu forte amor (not) por elas.

Como devem imaginar, este é um grande passo para o meu crescimento e maturidade: ser capaz de permanecer no mesmo quarto na mesma guesthouse e, fazê-las desaparecer por mim própria! Mas a terceira que vi estava viva e era simplesmente gigante, pelo que o gritinho histérico voltou e a abertura de porta bem repentina também, pedindo ajuda ao rapaz da recepção que usou um spray para insectos e o seu chinelo para afastá-la em três segundos. E rir-se de mim depois.

Depois da barata já não me fazer companhia, chegou a hora de tentar marcar os meus próximos voos mas sem efeito. A internet é uma treta nas Filipinas e aqui não foi excepção. Decidi escrever e ficar a ouvir música até serem horas de jantar e eu sair para comprar algo para trincar. Até que aconteceu o tal incidente que vos escrevi antes e rapidamente voltei para casa.

A minha ideia era ir ao Mt. Pinatubo para um trekking que começava ainda antes das quatro da manhã uma vez que tinha de fazer ainda uma viagem de carro de um belo par de horas (se não mais!). No entanto e, apesar de ter um contacto brutal que me deram no meu mergulho em Apo Island (que vos conto noutro artigo), já não fui a tempo e aproveitei para descansar no meu “me time” e dar umas voltas sozinha até considerar serem horas para apanhar um Grab e ir para o aeroporto em direção a novo destino: Seul!

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