Escrever sobre Taiwan causa-me alguma emoção tal como acontece com os outros países pelos quais viajei este ano mas pronto… estes últimos fazem-me demorar ainda mais a partilhar convosco a minha experiência porque é mesmo muita positiva. Como vos mencionei anteriormente, apanhei boleia se Taitung para Hualien com uma mãe, filha e a tia.

Elas tinham passado por mim uma vez sem parar e lá decidiram dar mais uma volta e apanhar-me. Com elas, fui a sítios incríveis que sozinha não chegava lá, nomeadamente um café espanhol com uma vista para o mar fantástica, em que o caminho foi excepcionalmente verde, com montanhas de um lado e mar no outro.

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Foi também com elas que tive a primeira grande conversa desta viagem sobre o conceito de beleza feminina. Elas ficavam espantadas com o meu tom de pele e tocavam nos meus braços para meio que comprovar que não tinha creme ou se era realmente natural. Eu ria-me e acenava afirmativamente que aquele era o meu tom bronzeado normal graças aos meus genes que vá-se lá saber quais são na sua totalidade. Confesso que tenho uma curiosidade tremenda em sabê-lo e um dia faço o teste! (Fica a dica para uma prenda de aniversário gira, malta  )

A mãe era altamente crítica em relação à sua filha, seja no que diz respeito à sua cor mas ao seu corpo também. Chamou a miúda de gorda mesmo à minha frente e eu nem sabia o que dizer de tão chocada que fiquei com aquele comentário tão directo!

– For me all women are beautiful in their own way. The conception of beauty is so different and subjective around the world that we all should feel well in our own bodies and souls.

E acrescentei que também a minha mãe não tem o mesmo conceito de beleza que eu e que nem ela acha que o meu corpo representa o seu ideal feminino. Por exemplo, para a minha mãe, o que é mais bonito é uma mulher sem muitas curvas, sem peito ou com um rabiosque pequeno. Para mim isso não tem grande piada e acho mais bonita uma mulher com curvas. Mas da mesma forma que acho uma mulher bonita com curvas, também acho uma mulher magra bonita. Tudo isto é tão subjectivo…

Sabes que não te levo a mal, Mãe 

Mas para estas três mulheres, ser bronzeada era considerado feio tal como um corpo muito curvilíneo, pés que calçam acima do 37, olhos demasiado fechados ou amendoados, entre outras coisas. E eu com aquela conversa comecei a rir-me e a disse:

– So I’m ugly for you since I have all that!

E elas sendo umas queridas riram-se e disseram que não e que eu era das raparigas mais bonitas que tinham visto até à data, tendo em conta aquelas características todas que elas acham feio. Mas que eu era ‘beautiful’ para elas. Obrigada então!

Depois de ver a dragon bridge bem como uma zona bem countryside com elas começou a chover torrencialmente e, como elas não iam para Hualien, deixaram-me numa estação de comboios pois seria impossível conseguir boleia com aquele tempo e àquela hora.

Em trinta minutos estava em Hualien e fui ter diretamente a casa do meu host que foi espectacular! Tento sempre ter o maior cuidado a escolhê-los pois, afinal, vou ter de conviver com eles e têm de ter o mínimo em comum comigo. E ele não foi excepção e tivemos conversas fantásticas os dois.

A minha cama e o meu quarto:

No dia seguinte quis ir a Taroko Gorge bem cedinho e apanhei o comboio das 7 da manhã em que o Gil lá deu o jeitinho de me levar de mota à estação! Parei no Family Mart para um café e perguntar onde era o parque, mesmo sabendo da sua direção. Estava a chover imenso e eu sabia que no final do dia ia estar cansada e toda molhada.

Entretanto um senhor que falava muito bem inglês – Mike – apanha-me a meio da estrada (visto que eu não queria apanhar nenhum bus e queria ir a pé até ao Taroko) e dá-me boleia até ao visitor centre. Dali fiz um pequeno trekking, um outro numa ponte de cordas suspensa e um outro brutal com o rio e cascatas. Estava sozinha neste primeiro e último. Era tão cedo que os turistas só iam começar a chegar bem mais tarde e eu aproveitei para estar bem na minha e fazer aqueles trekkings no meu passo e à vontade. Depois deste terceiro e maravilhoso trekking sozinha, peço boleia na desportiva e eis que a primeira carrinha pára! O Luigi (eles escolhem os seus nomes) não tinha nada que fazer naquela manhã e tarde e então decidiu fazer-me uma tour privada durante o dia todinho!

Foi simplesmente espectacular. Já vos disse que estava a chover torrencialmente, certo? Ele explicou-me cada sítio como se fizesse parte da sua casa, apresentou-me um dos seus amigos que era ranger no Parque e levou-me a almoçar num sítio bem local, tornando este serão um dia tão bem passado que até me esquecia de tirar fotografias.

Entretanto no comboio a caminho de Hualien envio mensagem ao Gil que volta a irem buscar de mota para irmos jantar perto de casa. Passámos horas a conversas e no dia seguinte combinámos ir ao farol e ver o mar e a praia. Ele preparou oollong tea enquanto víamos aquela maravilha e foi um dos momentos da minha viagem. Acho que vou dizer isto muitas vezes…

Basicamente estávamos num viewpoint fantástico que recordarei para sempre. Obrigada Gil! Depois de uma molha até chegar a casa de mota, o Gil preparou-nos o almoço que estava excelente, cujo menu foi uma sopa de algas com gengibre, uma espécie de ervilhas com soja e alho, batata doce cozida e chá. Este almoço foi acompanhado por mais conversa sobre música e a vida.

Ri bastante com o Gil ao gozar que ele era da cidade do Drake e que só lá ia visitá-lo se me marcasse um encontro no Starbucks com o cantor e contei-lhe até a história de pensar ir a Dublin com os meus amigos só para ver o Drake. Também ele ouvia afroman e outros artistas na sua adolescência que eu ouvia também, mesmo no outro lado do oceano, e foi engraçado e curioso falar disso.

Já na noite anterior tínhamos falado sobre retiros espirituais na Tailândia ou na Índia e falámos de novo um pouco sobre isso durante aquele almoço. Ele era da opinião que era fácil vender esperança às pessoas neste tipo de lugares em que elas precisam de se segurar a algo e, portanto, qualquer coisa que lhe digam de positivo, elas ficam maravilhadas. E acaba por ser um pouco o que eu penso, apesar de acreditar que faz parte talvez do processo de autoconhecimento de cada indivíduo e devemos respeitá-lo. E partilhei com ele que quero muito ter a experiência de ir a um retiro de silêncio no futuro, como tive amigos que fizeram este ano, mas que acredito que não vai ser uma life changing experience como talvez possa ser para outras pessoas. Felizmente consegui fazer o meu processo sozinha e lutar contra o que me impedia de ser a minha melhor versão de mim própria e viver em paz. Foi uma viagem longa com alguns fantasmas e traumas mas faz parte do passado e aqui estou eu a viver bem no presente agora! 

Com tanta conversa e passeio, acordei no dia seguinte mais tarde porque estava mesmo a precisar. Chove torrencialmente e lá tive de ir comprar um guarda chuva. Mais um peso na mochila que não queria…

Fui à área de Tamsui de manhã bem como ao fort San Domingo. De tarde fui contemplar a alta vista de Bishanyan, a Suspension bridge, a Lovers bridge, os Strawberry gardens e o Bihu Park.

Já com um novo host fabuloso em Taipei, decidi  visitar o centro da cidade que amei e quero muito voltar! Conversei muito com ele também e senti-me bem em casa em casa dele. Vi pela segunda vez o filme que faz parte da série Black Mirror que gosto muito e experimentei vários tipos de comida, nomeadamente coreana.

Passei duas noites com ele mas facilmente passava muitas mais. Tenho tido cá uma sorte com os meus hosts que nem vos digo nem vos conto! Fico mesmo contente por estas experiências e são elas que fazem das minhas viagens ainda mais especiais e inesquecíveis.

Após quase duas semanas de Taiwan, chegou o momento de seguir viagem para Cebu à noite e, mesmo com peso a mais na mochila, deixaram-me passar na mesma. Top!

Preparados para as Filipinas?